O risco sistêmico em fundos representa a possibilidade de que problemas em um ou mais participantes do mercado provoquem efeitos em cadeia capazes de afetar todo o sistema financeiro. Rodrigo Balassiano, especialista em fundos estruturados e regulação de mercado, explica que compreender e gerenciar esse risco é essencial para preservar a estabilidade e a confiança dos investidores. A edição da ICVM 175 trouxe avanços significativos nesse sentido, ao estabelecer diretrizes mais claras e exigências robustas de governança e transparência para o setor.
Esse tipo de risco não se limita a eventos econômicos de grande escala; ele também pode surgir a partir da interconexão entre instituições, fundos e ativos. Quando um elo dessa cadeia sofre um choque, a propagação pode afetar liquidez, preços e até mesmo a solvência de outros participantes. Assim, a regulação busca criar barreiras e protocolos para que problemas localizados não se transformem em crises generalizadas.
Risco sistêmico em fundos: conceito e fatores de propagação
O risco sistêmico em fundos está diretamente ligado ao grau de interdependência entre os diferentes agentes do mercado. Rodrigo Balassiano destaca que elementos como alavancagem excessiva, concentração de ativos e exposição cruzada entre instituições aumentam a vulnerabilidade do sistema. Um fundo muito exposto a um único setor ou a poucos emissores, por exemplo, pode desencadear perdas relevantes caso esses ativos sofram desvalorização abrupta.

Outro fator relevante é a liquidez. Fundos que oferecem resgates rápidos, mas investem em ativos de baixa liquidez, correm o risco de enfrentar uma corrida por saques em momentos de estresse, forçando a venda de ativos a preços desfavoráveis. Esse movimento pode gerar um efeito cascata, pressionando o mercado e afetando outros fundos com posições semelhantes.
Medidas da ICVM 175 para mitigação do risco sistêmico
A ICVM 175 introduziu dispositivos que contribuem para reduzir a propagação de choques no sistema. Entre eles, destacam-se os limites de concentração de ativos, que evitam exposição excessiva a um único emissor ou setor. A norma também reforça a necessidade de políticas formais de gestão de liquidez, incluindo simulações de cenários adversos para avaliar a capacidade do fundo de honrar resgates sem comprometer sua estrutura.
Rodrigo Balassiano observa que a regulação fortalece ainda o papel dos prestadores de serviços, como administradores e custodiante, exigindo maior diligência na análise de ativos e no monitoramento contínuo dos riscos. Essas funções passam a ter responsabilidade ampliada na prevenção de práticas que possam fragilizar o mercado.
Governança e transparência como pilares de proteção
A governança robusta é uma das ferramentas mais eficazes para mitigar o risco sistêmico. A ICVM 175 estabelece que os regulamentos dos fundos detalhem claramente seus objetivos, estratégias e limites operacionais. A prestação de contas periódica, com relatórios completos e auditados, aumenta a confiança e permite que os investidores acompanhem de perto a saúde financeira do fundo.
Além disso, a norma incentiva a adoção de métricas de risco padronizadas, permitindo comparações mais precisas entre diferentes fundos. Esse alinhamento facilita a tomada de decisão dos investidores e contribui para a disciplina de mercado.
Tecnologia e monitoramento preventivo
O uso de tecnologia também é um aliado importante na prevenção do risco sistêmico. Ferramentas de análise em tempo real permitem identificar concentrações excessivas, variações abruptas de preços e alterações no perfil de liquidez. Rodrigo Balassiano ressalta que a automação de processos e o acesso rápido a dados confiáveis fortalecem a capacidade de resposta dos gestores diante de cenários de instabilidade.
Sistemas integrados de gestão de risco possibilitam simular diferentes cenários macroeconômicos e de mercado, antecipando vulnerabilidades e permitindo ajustes na estratégia antes que problemas se agravem.
Considerações finais
O risco sistêmico em fundos é uma preocupação constante para reguladores, gestores e investidores, pois ameaça a estabilidade de todo o sistema financeiro. A ICVM 175 trouxe avanços importantes ao estabelecer regras mais claras para mitigação desse risco, reforçando a importância da governança, da transparência e da gestão proativa. Com estruturas bem planejadas, monitoramento constante e alinhamento regulatório, é possível reduzir significativamente a probabilidade de crises generalizadas, preservando o equilíbrio e a confiança no mercado.
Autor: Nilokole Zakharova