As Olimpíadas de Paris 2024 se destacam como um dos eventos esportivos mais politizados dos últimos anos. A interseção entre esporte e política não é novidade, como demonstrado nos Jogos de Berlim em 1936, quando o atleta afro-americano Jesse Owens desafiou a propaganda nazista ao conquistar quatro medalhas de ouro. Hoje, as tensões políticas globais e os conflitos internacionais continuam a influenciar o cenário olímpico.
O contexto político da França às vésperas dos Jogos contribuiu para essa atmosfera carregada. O país enfrentou eleições parlamentares antecipadas, com a ameaça do avanço da extrema-direita. Essa situação levou alguns atletas franceses a se manifestarem publicamente. Kylian Mbappé, filho de imigrantes, fez um apelo contra a extrema-direita, enquanto Victor Wembanyama enfatizou a importância do voto e do afastamento dos extremos políticos.
A presença de Israel nos Jogos gerou controvérsias significativas. Palestinos e iranianos solicitaram ao Comitê Olímpico Internacional (COI) a exclusão de Israel, alegando violação da trégua olímpica devido ao conflito em Gaza. O presidente do COI, Thomas Bach, respondeu reafirmando que os Jogos são uma competição entre atletas, não entre países.
A delegação israelense recebeu proteção especial, lembrando o trágico incidente de Munique em 1972, quando 11 membros da equipe israelense foram assassinados. Durante a cerimônia de abertura, Israel ficou ausente por alguns momentos para evitar possíveis manifestações hostis do público.
Manifestações de atletas e público também marcaram os Jogos. O judoca argelino Messaoud Redouane Dris se recusou a lutar contra um oponente israelense, enquanto uma partida de futebol entre Paraguai e Israel foi palco de protestos na arquibancada, com faixas criticando o “genocídio” e exibição de bandeiras palestinas.
A ausência da Rússia e Bielorrússia como nações competidoras é outro reflexo das tensões globais nas Olimpíadas. Devido à violação da trégua olímpica, esses países foram impedidos de exibir símbolos nacionais durante o evento. No entanto, seus atletas puderam competir sob a designação de Atletas Neutros Individuais (AINs).
A trégua olímpica, um período de interrupção de conflitos internacionais entre os países participantes, destaca-se como um ideal olímpico importante. No entanto, sua eficácia é questionada diante dos conflitos persistentes e das tensões políticas que permeiam os Jogos.
As Olimpíadas de Paris 2024 demonstram que, apesar do ideal de união e paz através do esporte, as realidades políticas globais continuam a influenciar significativamente o evento. O desafio permanece em equilibrar a celebração do esporte com as complexidades das relações internacionais e conflitos geopolíticos.