A “lei do ex” é um conceito popular no futebol que sugere que jogadores tendem a marcar gols quando enfrentam seus antigos clubes. Recentemente, essa ideia foi analisada de forma mais rigorosa, utilizando métodos matemáticos para verificar sua veracidade. O fenômeno é frequentemente mencionado por torcedores e comentaristas, mas a questão é: será que realmente existe uma tendência favorável a marcar gols contra ex-clubes? Para responder a isso, é necessário um exame mais detalhado.
Um exemplo notável ocorreu em julho do ano passado, durante um jogo da Liga Profissional Argentina, onde o Boca Juniors empatou em 2 a 2 com o Defensa y Justicia. Os jogadores Santiago Mingo e Aaron Molinas, que marcaram para o Defensa, e Merentiel, que fez o gol do Boca, não comemoraram seus gols por estarem enfrentando seus antigos clubes. Esse tipo de situação alimenta a narrativa da “lei do ex”, mas será que isso é apenas uma coincidência ou há algo mais substancial por trás?
Os defensores da “lei do ex” argumentam que fatores psicológicos podem influenciar o desempenho dos jogadores contra seus antigos times. Eles acreditam que o conhecimento prévio dos rivais, que são ex-companheiros de equipe, pode proporcionar uma vantagem. Essa familiaridade pode permitir que os jogadores explorem as fraquezas de seus antigos clubes, resultando em um desempenho superior. No entanto, essa visão não é unânime, e muitos críticos consideram a “lei do ex” um mito.
Os críticos da “lei do ex” apontam que a percepção de que jogadores marcam mais gols contra ex-clubes pode ser um exemplo de viés de confirmação. Isso significa que as pessoas tendem a lembrar apenas dos casos que confirmam suas crenças, ignorando os momentos em que a “lei” não se aplica. Além disso, a generalização de um fenômeno específico para outros contextos sem evidências concretas pode levar a conclusões errôneas.
Um exemplo frequentemente citado por defensores da “lei do ex” é o de Luis Suárez, que, após jogar no Granada, marcou quatro gols em duas partidas pelo Almería. Por outro lado, Antoine Griezmann, que enfrentou o Barcelona após deixar o clube, não conseguiu marcar em seis oportunidades. Esses casos ilustram a complexidade da questão e a necessidade de uma análise mais aprofundada.
Para investigar a “lei do ex” de forma mais científica, é possível aplicar métodos estatísticos. A primeira etapa é formular a questão em termos matemáticos, comparando a média de gols de um jogador contra seu antigo clube com a média de gols contra outros times. Essa abordagem permite uma análise objetiva, afastando-se de percepções subjetivas e anedóticas.
Utilizando dados de jogadores que atuaram em mais de um time entre 2021 e 2024, foi possível calcular as médias de gols. A média de gols contra ex-clubes foi de 0,18, enquanto a média contra outros times foi de 0,14. Embora a média contra ex-clubes seja maior, a diferença de 0,04 não é suficiente para afirmar que a “lei do ex” é uma regra geral.
Ao aplicar testes de hipóteses, a probabilidade de observar uma diferença de 0,04 ou maior, assumindo que não há diferenças reais, foi calculada em aproximadamente 18%. Essa probabilidade sugere que a diferença observada pode ser uma flutuação aleatória, e não uma evidência sólida da “lei do ex”. Portanto, a conclusão é que não há evidências suficientes para sustentar a existência dessa lei como uma verdade absoluta no futebol.